Ao longo da história da humanidade, o conceito e o valor do dinheiro passaram por transformações profundas e fascinantes. Desde as primeiras formas primitivas de troca até as complexas estruturas financeiras dos tempos modernos, o valor do dinheiro tem sido um reflexo das dinâmicas econômicas, sociais e políticas de cada época.
A evolução do valor do dinheiro é um espelho das mudanças nas relações comerciais, nos sistemas monetários e nas percepções coletivas de riqueza e poder. Explorar essa jornada histórica nos permite compreender como a humanidade chegou à complexa rede de transações financeiras, sistemas bancários e políticas monetárias que moldam a economia global contemporânea.
Nesta exploração, veremos como as moedas foram criadas, respaldadas e, por vezes, desvalorizadas, bem como como as mudanças nas perspectivas culturais e econômicas influenciaram o valor intrínseco e simbólico do dinheiro ao longo do tempo.
A palavra "dinheiro" deriva do latim "denarius", que era uma moeda de prata que circulava amplamente no Império Romano e tinha um valor estável em relação a outras moedas e bens. Com o tempo, o termo "denarius" evoluiu para o italiano “denaro”, depois para o espanhol “dinero” e o "dinheiro" português.
A definição moderna de "dinheiro" refere-se a um meio de troca amplamente aceito em transações econômicas. É uma unidade de conta e uma reserva de valor que facilita a compra e venda de bens e serviços.
O dinheiro pode assumir várias formas, desde notas e moedas físicas até representações digitais em sistemas bancários e eletrônicos. Sua função principal é simplificar as transações comerciais, eliminando a necessidade de trocar bens diretamente (troca direta), o que seria muito ineficiente em uma economia complexa.
O dinheiro possuí basicamente 3 funções principais, agindo como meio de troca, onde é aceito como pagamento por bens e serviços e é amplamente utilizado para facilitar transações; servindo como unidade de conta, onde é uma medida comum que permite comparar o valor de diferentes bens e serviços de maneira eficiente e atuando como reserva de valor, onde o dinheiro mantém seu valor ao longo do tempo, permitindo que as pessoas economizem e armazenem riqueza para uso futuro.
Durante a história da humanidade, o principal representante do dinheiro foram as moedas. A palavra "moeda" tem origens que remontam ao latim vulgar, derivando do termo espanhol moneda e do italiano moneta, que faz referência ao templo de Juno Moneta, uma deusa romana protetora dos recursos financeiros e da moeda. O templo de Juno Moneta era utilizado como uma casa de cunhagem de moedas em Roma, e daí vem a associação com o termo moneta.
Outros representantes do dinheiro de grande importância histórica foram os metais preciosos prata e ouro, várias economias no decorrer da história foram baseadas no valor dos sistemas padrão prata e ouro, como uma forma de dinheiro e reserva de valor. A prata e o ouro foram uma das matérias-primas mais amplamente usadas para cunhar moedas e servir como meio de troca na história da humanidade. Analisando sua variação no tempo, podemos estabelecer uma boa referência de valores monetários durante estes períodos, conforme podemos observar através da Figura 1.
Figura 1: Variação do valor da grama do ouro no decorrer de quase 200 anos. Fonte: Elaborado pelo autor |
Um meio também valioso para valorar o dinheiro em suas respectivas épocas é o valor do menor salário que um trabalhador sem qualificação recebia em determinado período. Através dos respectivos salários e preços empregados no decorrer do tempo, se consegue entender o valor e a importância dos itens e serviços para as pessoas, facilitando assim a comparação com os valores atuais.
Na Figura 2 é ilustrado o Édito sobre Preços Máximos ou Edictum de Pretiis Rerum Venalium emitido em 301 d.C. por Diocleciano, denunciando os monopolistas e fixando preços e salários máximos para todos os artigos e serviços importantes.
Figura 2: Édito de Diocleciano ou Edictum de Pretiis Rerum Venalium Fonte: Museu Pergamon em Berlim |
O Édito mostra alguns salários de profissionais da época em denários ao dia, como por exemplo o de um agricultor que era de 25, carpinteiro ou pedreiro de 50, pintor de 75, padeiro de 50, construtor de barcos 50, limpador de fossas de 25, legionário médio de 45, Guarda Pretoriana 55 e o de professor que era de 50 a 250 denários por criança ao mês.
O conceito de um valor mínimo para os salários representa um marco significativo na busca por justiça social e equidade, proporcionando uma base mínima para a subsistência dos trabalhadores. No entanto, diversos fatores, como inflação, crescimento econômico irregular e desafios estruturais, contribuem para uma variação considerável no poder de compra para esta base salarial no decorrer da história humana.
Muitas vezes, a atualização desse “salário mínimo” não acompanhou adequadamente a escalada dos preços, resultando em períodos de perda de poder aquisitivo para os trabalhadores de renda mais baixa. Políticas de reajuste nem sempre foram suficientes para garantir que esse “salário mínimo” acompanhasse de perto as necessidades básicas da população, levando a debates sobre sua eficácia e impacto na redução das desigualdades.
O menor salário de trabalhador sem qualificação em setembro de 1889, durante o período do final do império brasileiro, foi registrado como sendo de $25.000 (vinte e cinco mil réis). De acordo com o Decreto-Lei 2162 de 1940, o salário mínimo de um trabalhador brasileiro deveria ser de $240.000 (duzentos e quarenta mil réis). Com a mudança da moeda nacional para cruzeiro em janeiro de 1943 o Decreto-Lei5.670 de 1943 adota o novo valor de Cr$ 300,00 (trezentos cruzeiros) para o mínimo salário nacional. A Figura 3 mostra como se comportou o salário mínimo durante os vários planos monetários que foram implementados no Brasil entre 1943 e 2023.
Fonte: Elaborado pelo autor. |
Ao observar a variação do salário mínimo brasileiro de 1940 até 2023, fica evidente a complexa trajetória que essa remuneração básica percorreu. Desde sua implementação, o salário mínimo passou por inúmeras transformações, refletindo não apenas as mudanças econômicas do país, mas também as políticas sociais e as flutuações no custo de vida, deixando bem evidente como foi a variação do valor do dinheiro ao longo do tempo.
Para citar esse texto:
SBRANA, Cahue. A evolução do valor do dinheiro ao longo do tempo. Movimento Numismático, Rio de Janeiro - Manaus, Anno.1 - Edição 01, p.33-38, 2023.
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